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Que sorte temos nós em viver no burgo mais badalado do momento.
É turistas por todo o lado, é a crise afastada (?), é capas de jornais e revistas de lifestyle com as nossas cidades, um pouco por todo o mundo.
Venham para o Algarve, descubram a cosmopolita Lisboa, deslumbrem-se com o romântico Porto ou deambulem no bucolismo do Alentejo.
O que é que pode arruinar a nossa inabalável confiança no futuro, o que pode afastar-nos da contemplação do belo?
Que tal um juiz da relação do Porto (a tal cidade tão romântica à qual os turistas começam a acorrer como se estivessem a dar doces), decidir manter a pena suspensa a um tipo que agrediu a esposa com uma moca de pregos porque, e acreditem que se quisesse inventar não conseguia ser tão criativa, já dizia a Bíblia que uma mulher adúltera deve ser punida com pena de morte.
Pelo que há que desculpar o senhor. Ele estava só a ser um bom católico, seja lá o que isto for, a reagir ao calor dos sentimentos de cornudo. A seguir vai haver a formação de um túnel de barrigudos, através do qual a senhora terá de passar, enquanto lhe atiram cuspidelas, impropérios e outros mimos à escolha. Nada de objectos cortantes, que não somos nenhuns selvagens.
O Conselho Superior da Magistratura decidiu não se meter. Para quê, não é? A decisão soberana de um juiz, assente na obra de ficção mais vendida da história, ia dar muita complicação. Mais um pouquinho e metiam-se direitos autorais, era um imbróglio para durar até ao fim dos tempos.
Além disso, toda a gente sabe que os homens são criaturas emocionais, incapazes de controlar os impulsos, a quem devemos perdoar pequenos «deslizes»... Devíamos agradecer, nós, mulheres, em nome daquela pobre coitada que não terá de ser delapidada em praça pública, porque vivemos no pináculo da civilização ocidental.
Agradeçamos, enquanto vemos passar os autocarros panorâmicos e os tuk-tuk repletos de cidadãos ignorantes ao que se passa. Ámen!
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