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Gosto de dizer Bruges.
Gosto ainda mais de dizer In Bruges. Especialmente depois de ver o filme.
O que poderá ser dito sobre um filme como este? A sensação que perdura depois do visionamento entorpece-nos um bocadinho a capacidade de verbalizar o que quer que seja. Deixo já bem claro: o filme é fantástico! Há anos que não me ria tanto com um filme. Talvez contagiada pelo ambiente que quem estava comigo criava, mas mesmo assim, genial. Como eu adoro humor negro! Acho que também há anos não devorava todas as opções especiais de um DVD. E fiz finalmente as pazes com o Colin Farrell. Neste filme, ele até pode ser aquilo que detestava que ele fosse, um bêbado irlândes. Aliás, por mim, o Colin Farrell só fazia bêbados irlandeses com a consiência pesada e gatilho rápido daqui para a frente! Que interpretação.
O nosso deleite começa pela poster do filme.
Reparem no geladinho numa mão e na arma na outra, no ar ligeiramente desesperado do Ralph (que se lê Raif, by the way) Fiennes, no pormenor por baixo do título: It's in Belgium
E que Bélgica! A cidade de Bruges é uma das personagens do filme. Nunca se vão esquecer dela se virem este filme. Hão-de lá ir nem que seja antes de morrerem.
E é dessa premissa que o filme parte. A personagem de Fiennes (Harry) concede algum tempo à de Farrell (Ray) em Bruges porque vai mandar matá-lo e quer que ele aprecie a cidade antes de morrer. Gleeson (Ken) acompanha-o, desconhecendo inicialmente o destino final do amigo. Enquanto Ken se entrega aos prazeres históricos da cidade, Ray mostra-se sempre aborrecido, inquieto. A frase que mais se ouve ao longo da longa metragem é "Fuckin' Bruges". Esta dualidade de sentimentos, diz-nos o realizador, aloja-se dentro de cada um dos visitantes da cidade. Por uma lado sentimos que estamos a viver dentro de um conto de fadas, por outro, precisamos, ao fim de algum tempo, de alguma mundanidade.
O que distingue este filme de mais uma comédia destranbelhada, divertida mas longe de atingir o âmago das nossas emoções, é a latente humanidade destas personagens. O tormento pessoal e aparentemente inultrapassável de Ray por ter assassinado acidentalmente uma criança enquanto matava um padre numa igreja (com o padre ele não se importa).
A luta interior de Ken, dividido entre obedecer às ordens e ser fiel à forte amizade que o une a Ray.
A psicose de Harry, extremoso pai de família por um lado, rebentador de cabeças pelo outro.
Jimmy, um anão (dwarf, not midget) cocaínomano que anuncia a luta racial dos anões.
Chloe, a mais adorável traficante de droga e assaltante de turistas que vamos conhecer.
Tudo é verdadeiro em Bruges, não há subterfúgios nem máscaras. Quando as há, depressa caem, muitas vezes com estrondo. Para chamar a atenção desse facto. Na cidade mais medieval da Bélgica (não se esqueçam, it's in Belgium) passa-se a mais surreal e dantesca das histórias. O final não é feliz, ou pelo menos é muito dúbio. Mas também assim é a vida! A grande vitória deste filme, é essa: diverte-nos mas deixa um travo de realidade na boca. Faz-nos sentir, o que nos dias de hoje não é nada de desprezar.
Para perceberem um pouco do que falo, aqui fica o trailer. Para vosso deleite:
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