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Temos que pensar quais poderão ser as consequências das reformas que o ensino em Portugal atravessa.
Muitos de vocês ainda se devem lembrar da polémica com o exame de matemática deste ano. Parece que lá para o meio havia uma questão que estava ao nível do nono ano. Relembro que os exames nacionais se efectuam no 12º ano para acesso à universidade e conclusão do ensino secundário. Na altura, Maria de Lurdes Rodrigues veio dizer que não era ela que fazia os exames e que qualquer facilitismo não lhe podia ser imputado a ela, Ministra da Educação. Pois.
Os resultados desses mesmos exames começaram a ser revelados ontem e, surpresa das surpresas, verificou-se uma melhoria significativa da generalidade dos resultados. Será que os nossos alunos, de um ano para o outro, ficaram extremamente aplicados e sofreram um boost de inteligência? Duvidoso, digo eu.
De resto, as melhores escolas continuam a ser as privadas. Parece que para garantir um lugar nas melhores faculdades do país e ter um nível de ensino compatível com esse objectivo, temos que pertencer a uma qualquer elite...
Desenganem-se aqueles que pensam que esta ambivalência se fica pelo secundário. Se bem que depois é diferente. Como? A minha experiência com o ensino superior mostrou-me duas vertentes. Se, por um lado, os alunos mais fracos (que os há; gente que mal sabe escrever obtém licenciaturas ao fim de 3 ou 4 anos) vão passando, desde que tenham alguma paciência e muito poder de encaixe, os melhores serão classificados consoante frequentem uma faculdade pública ou privada.
Tive uma professora que dava notas baixas, corria turmas inteiras a 10, 11 e 12 e lá dava um 15 ou um 16 para disfarçar. Toda a gente sabia que era assim e não havia muito a fazer. Até que descobrimos que essa mesma senhora dava aulas na Católica e aí já não se coibia de dar 19 e 20 a uma série de alunos. A questão que tem que ser colocada é a seguinte: Será que os alunos da Católica eram assim tão diferentes de nós? Será que numa turma inteira não haveria ninguém merecedor de um vinte?
Só pode haver duas respostas a este tipo de interrogações:
- Os alunos da Católica são aqueles que frequentavam privadas no secundário e estão habituados à exigência do ensino e a obter classificações elevadas, ou
- É a Católica! Os pais não pagam balúrdios para os filhos saírem com média de 13 e para não ocuparem os melhores cargos que o país tem para oferecer.
Se calhar, o mais correcto é uma mistura destas duas ideias.
Mas a coisa não fica por aqui. Parece que agora os senhores do Ministério da Educação, os mesmo que diziam que não andavam a facilitar a vida a ninguém, querem acabar com os chumbos no ensino obrigatório. Os parâmetros desta ideia ainda permanecem por explicar.
A consequência imediata disto só pode ser uma. De facto, teremos muito mais pessoas com o 12º ano. Mas depois, se calhar, ter o 12º ano vai deixar de ter qualquer tipo de importância.
Depois, se calhar, as pessoas a quem foi facilitada a vida académica até então, aproveitam os exames nacionais facilitados e entram em faculdades facilitistas. Alguns vão chumbar repetidamente quando aí chegarem, contribuindo para os cofres do estado com as propinas equivalentes aos anos que chumbaram, outros vão passando até adquirirem o canudo e estarem prontos para engrossar a força trabalhadora.
Mas que força trabalhadora será essa? Porque, se calhar, estamos a falar dos líderes, dos administradores, dos gestores de amanhã.
Será que queremos que os nossos destinos sejam decididos por uma data de gente a quem a vida toda foi entregue numa bandeja?
Se calhar não.
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