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O fim da aventura europeia?

por A Mona Lisa tinha Gases, em 14.06.08

Este país anda impróprio para cardíacos...

Durante a paralisação dos camionistas vimos coisas impensáveis para um país do chamado "Primeiro Mundo".

E nem falo do que se passou com os piquetes, com atropelamentos, ameaças claras, sem preocupação de se manterem veladas perante as câmaras de TV, apedrejamentos, tubos de gasóleo cortados, fogueiras feitas de pesados, camiões cisterna com escolta policial e dezenas de polícias de choque prontos a molhar a colher na sopa.

Falo do desespero, ainda que momentâneo, que alguns portugueses viveram ao longo destes dias. Filas imensas em gasolineiras na esperança de conseguir atestar o carro, para ir buscar os miúdos à escola, para irem trabalhar no dia seguinte. Nem o jogo de Portugal demoveu as centenas de carros que almejavam por algumas gotinhas do precioso líquido. Tudo para, em muitos casos, a poucos metros da bomba, vir o aviso de que já não havia nada e que não voltaria a haver até nova escolta policial trazer mais um cisterna ou até os camionistas decidirem voltar ao trabalho. Naquelas em que ainda havia algum combustível, chegou o racionamento, com dez euros de tecto máximo de abastecimento.

Nunca vi tanta gente nos supermercados, com carros tão cheios e rostos tão apreensivos. Uma senhora guiava dois carrinhos, um deles só para levar leite, ao mesmo tempo que em unidades de produção leiteira, esse mesmo leite era deitado fora por não haver condições de armazenamento.

Durante os três dias de paralisação centenas de quilos de alimentos pereceram dentro dos camiões que os deviam levar ao destino, como já tinha acontecido com as centenas de quilos de peixe deitados fora nas lotas durante a greve dos pescadores.

Algumas questões ficaram bastante claras no meio de todo este caos: a primeira é que certos sectores de que depende a economia podem de facto mergulhar um país na confusão e levar-nos a cenários próprios de guerras civis, mais ou menos graves. A segunda é que o governo cedeu porque teve receio de usar da força, de ser considerado anti-democrático mas também porque, se calhar, tem a consciência pesada. A contínua subida do preço dos combustíveis vai acabar por levar à falência muitas pequenas e médias empresas e vai, invariavelmente, trazer de volta a fome a casas onde ela não se faz sentir normalmente. E José Sócrates, ainda que pareça algo alheado de toda esta crise em escalada, sabe disso.

No meio de tudo isto, o futebol ia mantendo alguns ânimos mais ou menos serenados. Até que se descobriu que Scolari vai para o Chelsea. E aí, um pouco por todo o lado, caiu o carmo e a trindade. Porque em conjecturas negativas até a mais insignificante das coisas adquire proporções catastróficas, a saída de Scolari no final do Europeu afigura-se a muitos como uma traição, um enorme obstáculo a ultrapassar na corrida para ganhar o caneco.

A estocada final (será?) surgiu hoje por intermédio dos irlandeses. Não é que os gajos chumbam o tratado de Lisboa? Andava já Sócrates a ter sonhos molhados com a hipótese de se perpetuar o nome da nossa capital nos anais da política europeia e vêm os irlandeses puxar-nos o tapete. Os tais cujo país tem uma das maiores taxas de desenvolvimento da União Europeia. Pelos vistos também andam lixados com alguma coisa. E vai daí, 'bora lá demonstrar o nosso descontentamento através das urnas, colocando a Europa à beira de um ataque de nervos.

Numa altura em que andamos todos histéricos com a pseudo-crise dos Estados Unidos e com as consequências mundiais que daí poderão advir, afinal a Europa anda a dinamitar os próprios alicerces. Como que para provar que não precisamos da ajuda de ninguém para nos enterrar.

Sócrates veio classificar o "Não" irlandês como uma derrota  pessoal.

Oh homem, então não achas que já andamos com poucas coisas em mãos para ainda andares a dizer essas coisas? Partilha lá a derrota desta vez que precisamos de ti com cabecinha liberta para resolver o que se avizinha. É que parece que agora o palco é dos taxistas e dos agricultores. Porque como em tudo, uma vez feita uma concessão, terão de vir muitas mais atrás. E nós que estávamos a recuperar tão bem do défice! Pois, parece que por estes dias se dá mais importância a ter comida na mesa do que à variação dos valores do défice. 

Porque será?

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publicado às 01:42


20 comentários

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De Lis a 16.06.2008 às 12:42

Desculpam-me se vou dizer parvoíces , no telejornal disseram algumas coisas sobre os greves e tal, mas como não moro em Portugal, não vivei as coisas como vocês . Tudo de mesmo, queria reagir... (desculpa pelos erros e pelos frases em inglês , não consegui traduzi-los).

Então os preços de gasóleo são altos demais. Porque os taxas são altos demais. Evidentemente. Hum... Os preços dobraram, e os taxas são, dizemos, 50%, então sem taxas, os preços voltam ao nível normal. E então? Os preços vão acabar de subir? Bullshit. Os preços Com quantos, 20?, blogues vocês mudaram o Sapo. E possível mudar as coisas.são determinados pelos países quem produzem o gasóleo, pelo investidores e pelo ambiente financeiro mundial. E lá, neste momento, toda a gente anda em pânico. Preços mais baixo no futuro próximo? Acho que não. Ainda por cima, os taxas são um fonte de dinheiro importante pelo governo, sem dinheiro não poderá fazer muito pelo Pais. Não poderá investir em soluções mais permanentes pela problema. Porque a problema não são os preços, o problema e a dependência, neste caso do gasóleo. E lá, como individuo, e bem possível fazer uma ou dois coisas que provavelmente não vão mudar o mundo, mas bem a própria conta de energia. E mais dinheiro deixa a gente mais feliz.

Claro que não e assim tão simples, sei isto, e nem eu sou muito optimista sobre o futuro. But we're not like trees, we don't have to stand and wait till the storm is over and the sun comes back. Podemos mudar as coisas pelo menos para nos próprio. Mas temos que acreditar nisto, e de certeza vamos ter que abandonar umas coisas - não esquecem-se de que temos uma vida cheia de luxo, somos mesmos mimados.
Se os Irlandeses dizem não ao tratado, podemos chorar ou podemos iniciar o dialogo e convence-los do "sim". Se os preços do gasóleo sobem mais uma vez, podemos ir a um supermercado mais barato e explicar aos crianças que não haverá chocolate desta mês porque não temos o dinheiro, ou podemos ir ao supermercado de bicicleta ou de pé. Se a Selecção perde o jogo, podemos acusar o Solari for having undermined the morale of the players , ou podemos olhar pelos erros e planear um treinamento extra para trabalhar nisto. Sempre temos o escolho. Eu escolho não ter autocarro, escolho comprar janelas mais isolados, escolho o banco porque não investe em projectos que envolvem armas ou trabalho de crianças. Não muda o mundo, mas mudo o meu impacto no mundo, muda o impacto dos amigos, porque vêm me dizer: ontem fui a Antuérpia de comboio e não de carro.

It isn't my intention to preach and teach everyone a good lesson in how to live the perfect life, I am well aware I made some serious oversimplifications on the subject . But it pisses me off to hear everyone moan about the gas prices and blame the government, blame the oil producing countries, blame everyone but themselves. If one supermarket doubles the price for milk, they'll drive half an hour for a supermarket with cheaper milk, but if the gas prices are going up, taking the cheaper bus "takes too much time". The government is not responsible for your gas bill, you are, so if it 's too high, use less gas. But sometimes it seems it's an alien way of thinking... still, I stay convinced : I can change something, we all can. With, what, 20? blogs you changed Sapo. You can change anything else too.
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De A Mona Lisa tinha Gases a 17.06.2008 às 00:41

Bem, isto é que é um comentário! :D
Por onde começar? Não discordo que o esforço individual possa ter algum efeito positivo. Pelo contrário, acredito no esforço individual mas dou mais valor ao esforço colectivo.
Toda esta conjectura surge do facto de o nosso governo querer baixar o défice para não sofrer as multas da união europeia. Muito bem, estou de acordo. O que não concordo tanto é não se tenha em conta o potencial impacto negativo que todas estas medidas em conjunto possam ter. O maior problema não é o das famílias que tenham que vir a andar de transportes públicos. Eu ando de transportes públicos quase todos os dias. O problema reside nas empresas que não podem transportar as matérias-primas em autocarros. Esses sim estão em maus lençóis. Esses sim precisam de soluções que passam pelo governo. Não falo em diminuir o imposto sobre o gasóleo porque a escalada nos preços dos combustíveis deve-se à especulação, não é causada pelo nosso governo. Na semana passada só porque um senhor importante da Arábia Saudita, um dos maiores exportadores de petróleo, veio dizer que não entendia a escalada dos preços, nesse mesmo dia o preço do barril baixou... Falo do alargamento do combustível profissional a empresas que estejam neste momento próximas da falência. São as pequenas e médias empresas, não os grandes tubarões do mercado.
Claro que era excelente que pudéssemos não depender do petróleo. Algumas medidas têm sido tomadas nesse sentido, com a construção de parques eólicos, por exemplo. Mas ainda estamos muito longe dessa realidade e estaremos mesmo que se começassem a construir neste preciso momento dezenas de infraestruturas de produção de energia alternativa.
As pessoas habituam-se a determinado estilo de vida e depois não concebem que isso mude. Mas como dizes, o combustível vai continuar a aumentar e vamos ter de nos adaptar. Mantendo o espírito crítico e a capacidade de reacção? Claro!
Obrigada pelo teu comentário, volta sempre! :)

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