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Não vou falar de caniches. Vou contar um episódio com um cão ligeiramente maior.
Há um ano e meio atrás, o meu namorado começou a azucrinar-me com a ideia de termos um cão. O facto de já termos um gato não parecia ser impedimento para ele. O pior é que o meu namorado não queria um cão qualquer: queria um Staffordshire Terrier Americano.
A minha reacção não podia ter sido pior. Comecei a indagar se ele não seria, na realidade, um delinquente em potência. Porque era assim que eu via os donos desses cães. Já os canídeos, não estaria a exagerar se dissesse que via neles a encarnação do demónio, com aqueles olhos rasgados e bocas enormes, cheias de dentes.
Mas enfim, ele tanto me chateou que eu acedi a, pelo menos, ir ver o bicho. Mal sabia eu que estava a ser atraída para uma armadilha engendrada há muito e que não deixava muito espaço para falhas.
O rapaz que tinha feito a criação morava num oitavo andar e tinha as crias todas na cozinha. O odor era indescritível. Mas assim que vi os bichos, com apenas algumas semanas, a componente odorífera passou para segundo plano. Eram as coisinhas mais queridas que eu já tinha visto, sem qualquer traço daquilo que são em adultos. À traição, o meu namorado pegou num deles e meteu-mo no colo. E claro, o bicho só voltou a sair do meu colo quando o pousei na sua nova cama, já em nossa casa. Claro que ele sabia que, assim que os visse, o meu coração iria amolecer.
O cão já tem agora 14 meses. Sempre foi completamente mimado por toda a gente e nunca teve reacções agressivas. Levou chip, tem seguro e registo e todas essas mariquices.
Só que para o porte que tem, asseguro que brincar com ele não é o mesmo que brincar com um caniche. Teve de ser extremamente bem ensinado, principalmente a morder ossos de cão e não mãos de pessoas, o passatempo preferido dele quando era pequeno. Teve de ser ensinado a não saltar para cima de seres humanos e por aí em diante.
Neste momento, tenho a percepção de que não é um cão perigoso pois foi ensinado a não sê-lo.
Não vou ser hipócrita/demente ao ponto de dizer que nenhum cão é perigoso. Mas o meu não é.
Agora, tenho andado a reparar que, mesmo açaimado, as pessoas olham para ele de lado. Compreensível. Mas há umas noites atrás, fiquei surpreendida.
Duas e vinte da manhã. Insónias e choro de cão. Fomos à rua. Estava uma noite agradável e ficamos encostados ao portão do terreno, só a apreciar uma brisazinha. Aparece um casal ao fundo da rua e aproxima-se, por entre os carros. Eu já os tinha visto, mas o cão só os vê quando eles estão a três metros de nós. Ladra. Não teria sido pior se se tivesse atirado à garganta da rapariga. Deu um grito tão estridente, seguido de um "Oh! Que susto" quando avistou o responsável pelo latido que, por um momento, juro, pensei que trazia um tigre dentes de sabre pela trela.
Até o cão ficou confuso. Ficou a olhar para ela e para mim, como que a perguntar "Falei muito alto, foi?"
A expressão seguinte da rapariga foi o que me indignou mais. Do susto passou à raiva contida. Como se a existência de binómios cão/pessoa como nós, lhe fosse especialmente ofensiva.
E então, por momentos, revi-me nela. Eu já fui assim. Antes de saber como é, eu já tive medos excessivamente aumentados pela notícias na comunicação social e pelo estigma que este tipo de cães carregam.
Mas agora já não. Entendo que nem todos possam ter um cão destes para afastar receios, nem sempre, fundamentados. Agora sei que há dois tipos de pessoas que têm cães destes: os delinquentes e pessoas como eu!!! E que há dois tipos de cães, os que são mal ensinados e o meu!
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