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Estou a tentar deixar de fumar. Desde hoje! Na verdade, só a ideia de tal coisa dá-me vontade de me atirar da varanda!
É algo que os não-fumadores nunca vão saber o que é: a relação intimista que se estabelece com um cigarro. É como um amigo a quem podemos sempre ligar. E que responde sempre a todos os telefonemas ou mensagens. É verdade que temos de lhe pagar por essa disponibilidade permanente, mas daí, quantos seres humanos não pedem o mesmo?
No primeiro dia de faculdade ele deu-me o ar cool e desinteressado que eu precisava quando não conhecia ninguém e tinha que suportar o peso dos olhares de desconhecidos.
No meu primeiro emprego de adolescência(daqueles que servem para pagar as bebidas ao fim de semana) dava-me a oportunidade de sair mais vezes da loja. Porque quem fuma sabe que quem fuma precisa de fumar. Não é negociável!!
Já nem me lembro porque é que comecei a fumar... Sei que foi por volta dos dezassete ou dezoito anos. Estava em casa de uma amiga com um pequeno grupo e uma delas ofereceu-me um cigarro. Nunca tinha experimentado e suponho que até me causava um certo asco devido ao hábito de três a quatro maços por dia do meu pai. Sim, eu escrevi três a quatro maços! Mas enfim, não me ia matar e experimentei. Não tive aquela reacção típica que quase todos os fumadores contam, a de repulsa inicial. Não me desfez nem me desfez. Mas se me perguntarem porque é que no dia seguinte voltei a pegar no tabaco, não sei dizer. Em mim, sempre teve um impacto muito mais psicológico que físico. Até hoje, acho que nunca ressaquei tabaco. Mas lá está, é o meu companheiro das horas mortas, dos copos nos bares, dos jantares em casa de amigos, dos corredores do início da faculdade. E ainda que eu nunca tenha associado o estatuto ou a postura ao tabaco, já houve alturas em que ele assumiu, inadvertidamente, esse propósito e me conferiu aquela aura de mistério ou inacessibilidade que precisava em dado momento.
Mas acabou o romance. Todos os dias acordo a tossir, canso-me de morte a subir escadas... Eu gosto muito dele mas, a longo prazo, ele vai deixar de gostar de mim. Antes que isso aconteça, eu antecipo-me. Vou tentar fazê-lo aos poucos, que nunca acreditei naquelas histórias de pessoas que deixam de um dia para o outro e nunca mais tocam num cigarro.
Hoje ainda só fumei dois. Quando chegar ao fim do dia (porque em tempo de aulas, a pior altura é o dia, mas em férias é exactamente o contrário) se só tiver fumado cinco ou seis, vou achar que correu bem. Quem sabe, daqui a umas duas semanas posso estar livre dele. Mas que vou ter umas saudades descomunais, isso vou!
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