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Acabo de receber um email a convocar-me para ir fazer uns testes «psicológicos» para uma daquelas empresas fancy que até é capaz de não me querer explorar. Quatro horas de testes «psicológicos».
Fiquei imediatamente histérica com as possibilidades.
E depois passei alguns minutos a ponderar qual a percentagem de pessoas que recebe este email face à percentagem total de pessoas que enviam o CV.
E depois comecei a pensar qual a possibilidade de os meus testes «psicológicos» revelarem que sou uma narcisista encapotada com tendências psicopatas.
E depois decidi vir para aqui contar-vos isto e indagar se mais alguém passa por esta montanha-russa de emoções só porque recebeu um email...
Não sei se já sabem, se as televisões já começaram a mostrar imagens ou se continuam muito ocupadas com o ex-Primeiro-Ministro, mas Lisboa alagou outra vez. Ok, se calhar isso já nem sequer é considerado notícia.
Desta vez, eu achei que tinha que ir salvar o meu carro, que estava estacionado no Largo da Anunciada, perpendicular à Avenida da Liberdade. Pela Rua de São José não se passava, havia água até aos joelhos. Água de esgoto... Podia jurar que vi um enorme excremento a passar à minha frente, qual canoa nos rápidos, mas pode ter sido uma alucinação provocada pelo cheiro que se instalou no ar.
Segui pela Avenida da Liberdade e consegui não me molhar muito, apesar de saber que a tragédia podia estar eminente. É que sabia que ia estar frio, mas por alguma razão, chuva desta era coisa que não me passava pela cabeça hoje. Como tal, tinha calçado botinhas quentinhas, fofinhas e... absorventes, creio que é a melhor palavra.
Estou quase a chegar ao Largo da Anunciada e dou por mim rodeada de água por todos os lados. Juro, no espaço de segundos estava em terra e depois já não. Carrito, espero que fiques bem mas agora tenho que me salvar é a mim.
E lá enfiei os pés no riacho urbano, de volta ao escritório. Resultado, pés alagados, meias encharcadas e botas prontas para seguir para a máquina da roupa.
Fui comprar umas galochas a uma loja chinesa. E meias... E está claro que eles não tinham umas galochas simples, em mono-tom. Tive de comprar isto:
Retirado de http://santacatarina.olx.pt/galochas-tigresa-iid-462612897.
Não sei exactamente o que sinto neste momento, mas ando com aquilo calçado. Pronto, só custaram 10 euros e entre estas e as outras que eram padrão zebra, suponho que estas são menos más.
Não sei, nunca usei padrões animais na vida e estou claramente dividida entre a profunda repulsa e o pensamento que se calhar até são giras... Não consigo decidir se as adoro ou se as odeio. Para já, ajudaram-me a chegar ao carro, que se estava bem a borrifar com isto tudo apesar da minha extrema preocupação com ele... Pronto, um ponto para as galochas tigresa, suponho...
Ok, a minha primeira reacção foi perguntar porque é que alguém fundiu a imagem da mais famosa das Kardashians com o rabo de um equídeo. Porque desculpem lá, eu já vi póneis com glúteos menos desenvolvidos.
A minha segunda reacção foi perguntar porque é que ela está a sair de dentro de um saco de lixo. É alguma admissão de culpa?
A minha terceira reacção, e enquanto ainda me questiono se aquilo é ou não um saco de lixo, foi ligar para o CDC. Alguém tem de encontrar a fuga de resíduos radioactivos que está a transformar pessoas normais em mutantes rabudos. Mutantes rabudos que usam os respectivos como mesas de apoio.
Isto tem de ser bem visto porque pode ser uma nova espécie e temos de descobrir se é perigosa para sabermos se a matamos com fogo...
Não há vírus ou bactéria que se propague mais depressa do que o medo.
Na Sexta-feira à noite a corrida à água engarrafada nos supermercados fazia antever um qualquer apocalipse. Foi um médico do hospital de Vila Franca de Xira que nos informou pela primeira vez que podíamos beber água da torneira. Ufa! Então mas podemos beber água e o bicharoco está na água? Pouca gente se deixou convencer. Mas como é que se inala água? O que é que são aerossóis?
No Sábado a água continuava a desaparecer à velocidade da luz e lá vieram os senhores da DGS falar outra vez dos malfadados aerossóis. Banhos sim, mas duches nem pensar. A não ser que se mergulhe a cabeça do chuveiro em água com lixívia. Por causa dos aerossóis, que afinal são mini-gotas de água que andamos por aí a snifar no duche. Nos concelhos e freguesias limítrofes começa tudo a passar-se. Mas se está ali ao lado, porque é que não está aqui, a meia dúzia de metros? Porque é que nós fomos poupados à provação? Será que fomos mesmo?
No Domingo havia gente que não tomava banho desde Sexta-feira de manhã. Ou que só tomava banho de água quase fria. Por causa do vapor. Lá vieram os senhores da DGS esclarecer que o vapor não é um aerossol. Mas à medida que o número de infectados se multiplica e a fonte dos problemas não é encontrada, a apreensão não dá sinal de desaparecer. Fecham-se duches e piscinas municipais, acabam-se as aulas de Educação Física. Consigo imaginar uma data de marrões felizes da vida! Tirando a questão toda dos aerossóis, que afinal podem estar nos duches, nos aparelhos de ar condicionado, nas torres de refrigeração das enormes fábricas, nos sistemas de rega, por aí fora...
Ontem, a apreensão ainda era palpável nas ruas. Os rostos carregados, o olhar que acompanha até ao infinito qualquer ambulância que passe na rua, qualquer carro de reportagem que, por agora, se atravessa à nossa frente amiúde, como se nascesse do chão.
O curioso, nisto tudo, não foi a reacção das pessoas. É normal sentirmos medo perante um inimigo sem rosto, que atinge indiscriminadamente e que não sabemos onde se esconde. Um terrorista unicelular.
O curioso foi a forma como a questão foi apresentada ao público, através dos meios de comunicação social. Ainda hoje há muita gente que não entende muito bem o que é um aerossol. Ainda hoje há gente que acredita que deve fugir de qualquer apresentação de água que não venha de uma garrafa.
Porque a informação não foi veiculada de uma forma condensada e concreta, com indicadores simples sobre o que fazer e o que evitar. Foi saindo, ao longo das horas, ao longo dos dias. E começou por sair com termos que podiam, e deviam, ser outros. Porque o dever daquelas pessoas que povoam agora os nossos noticiários, não era informar os jornalistas. Era informar a população, desde a dona da farmácia até ao velhote de 90 anos que nunca aprendeu a escrever.
Por cá, continuamos à espera que alguém encontre o bicharoco. Na terra da Legionella, a vida continua.
Sim, a saga continua
Confesso, depois disto, não estava à espera de um momento WTF tão cedo.
Mas eis que ele chega em todo o seu esplendor.
Esta manhã perguntaram-me se eu tinha filhos. Eu respondi que não, porque é a verdade.
A resposta que veio do outro lado não me desconcertou inicialmente. Mas agora que penso nisso, foi mesmo um momento WTF.
A resposta foi algo do género: «Ainda bem, porque os miúdos estão sempre doentes e ocupam demasiado tempo e é uma chatice».
Ok, vejamos: eu sou uma mulher com trinta e poucos anos à procura de trocar de emprego. Quem procura um trabalho novo é porque necessita de liberdade financeira. Quem tem liberdade financeira começa a pensar na vida, no que é que pode fazer, se quer ter filhos ou se quer comprar um carro ou um candeeiro de lava.
Bem, para mim, se for seleccionada para a função, está afastada a primeira hipótese. E é assim o país em que vivemos. Temos que ouvir que não temos direito a perpetuar a espécie se quisermos receber um ordenado, por muito parco que ele seja.
Estou cansada...
Na sequência do post de ontem, por outro lado, o post que figura em segundo lugar na lista de mais acedidos é um texto com o título «Onde vivem os sapos» que, curiosamente, não tem nada a ver com sapos.
Curiosamente também, as pessoas chegam a esse post após uma pesquisa no Google com as search words «onde vivem os sapos».
Algumas questões me inquietam.
Porque é que tanta gente quer saber onde é que os sapos moram? Tem a ver com drogas, não tem?
Como é que esta gente ultrapassa a frustração de pensar que encontraram a resposta e depois, afinal, é só um blog esquisito com um post ainda mais esquisito?
Será que o título «A Mona Lisa tinha gases» resulta na ilação «Esta pessoa percebe de bichos, de certeza»?
As páginas e as pesquisas que vos trazem aqui fascinam-me!
Pensando bem, acho que consigo transformar isto numa tese de doutoramento. Convenhamos, era a única maneira de ter ainda mais dificuldade em trocar de emprego, ter um doutoramento. Blah!
Descobri que o post mais acedido de sempre nesta casa é uma parvoíce qualquer que descreve uma ocasião em que queimei a língua.
Até parece que sou o Manual Merck da blogosfera portuguesa...
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