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Já lá vão dez anos, mas ninguém se esquece exactamente onde estava e o que estava a fazer.
Eu estava a dormir e fui acordada pela minha mãe que me dizia que tinha acontecido alguma coisa em Nova Iorque, que um avião tinha chocado com um edifício. Por essa hora ainda ninguém sabia o que se estava a passar, nem aqueles que lá assistiam ao vivo, nem aqueles que, como nós, assistíamos a milhares de quilómetros, pela televisão.
A terrível confirmação de que algo de muito errado se passava, veio pouco depois, com o segundo avião, a segunda bala colossal contra o edifício igualmente colossal. Nesse momento, eu, estremunhada pelo sono, e toda a gente um pouco o mundo, sentiu o queixo cair-lhe perante a demonstração do mal. Nesse segundo, nesse momento que parecia prolongar-se infinitamente, à medida que as televisões repetiam vezes sem conta aquilo que não parecia ser possível, a humanidade juntou-se num chocado e mimético "oh!". Perante o inimigo que parecia longínquo, insignificante, quase inexistente. Perante a realidade de que o extremismo, que nunca poderá originar nada de bom, podia alojar-se entre nós, passear-se pelas nossas ruas, dizimar-nos no nosso âmago e não numa qualquer cidade desértica, de nome impronunciável, num qualquer país invisível.
Muito mudou desde então, muitos inimigos, supostos ou reais, desapareceram, outros surgem e surgirão, muitas guerras se travaram. Mas algo permanece igual. A sensação de desconforto perante as imagens, dos corpos a cair, das torres a encontrar o chão, das pessoas que, momentaneamente, eram todas iguais, cobertas pelos edifícios reduzidos a pó, é a mesma, persiste ainda agora, passados dez anos.
Houve quem dissesse que naquele dia éramos todos americanos. Eu digo que todos aprendemos, nesse dia, que éramos demasiado frágeis e desprotegidos face ao terrorismo, à eterna e renovável estupidez humana. E isso é algo que não se esquece. E é por isso que todos nós sabemos exactamente onde estávamos e o que fazíamos no 11 de Setembro. Porque ultrapassamos o choque, fechamos a boca de espanto, mas não esquecemos.
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