por A Mona Lisa tinha Gases, em 04.02.09
Hoje apetece-me contar-vos uma história embaraçosa.
Vendo bem as coisas, é melhor começar a arranjar temas de escrita em breve, senão estou desgraçada!
Este cataclismo passou-se teria eu uns doze anos. Agora, é preciso enquadrar bem os meus doze anos. Óculos de massa que não foram exactamente escolhidos por mim, uns quilinhos a mais (baby fat, claro), uma timidez que roçava o caricato mas já um sentido de humor mordaz e irónico. Por tudo isto podem imaginar o babe magnet que eu era! Filas!
Bem, naquela altura era costume passar um mês durante o Verão na aldeia dos meus avós. Um nicho no meio de dois montes, um calor abrasador, romarias de vacas na rua a intervalos regulares com a bosta que daí advém espalhada por todo o lado. E montes de miúdos que tinham a mesma sorte que eu.
Nesse Verão, uma das minhas amigas lisboetas também estava por lá. Como tal, também foi nesse Verão que eu descobri que as férias naquele buraco esquecido pelos mapas poderia ser muito mais interessante do que passar as tardes em casa da minha tia a ouvir as conversas dos adultos sobre recolha de mel, regadio ou a alegada traição da Maria da Moita de Baixo com o Manel do Monte Deitado.
Comecei a sair todos os dias com os miúdos, a jogar matraquilhos, a participar de conversas que redundavam invariavelmente em votações para eleger o puto mais giro num raio de 200 metros e a sair à noite, o que ali significava ficar acampada à porta de um dos dois cafés da aldeia (oh, what a thrill)!
Numa dessas noites, chegou-me aos ouvidos que um dos rapazinhos, que por acaso até era um local, queria fazer aquilo que na altura se chamava “curtir”. Ah, comigo! Mas sei lá, eu não estava particularmente interessada. Talvez tivesse a ver com a conversa que uns dias antes tinha ocorrido em que alguém dizia repetidamente, entre risos de escárnio, que o tal rapaz tinha comido uma vez um biscoito de cão, o que para um adolescente é tema de gozo para horas…
Bem, mas o rapaz que me interessava era outro, o que mais cedo ou mais tarde veio a ser descoberto. E o que é que uma adolescente tímida faz numa altura dessas? Pede a uma amiga que sirva de intermediária. Vá podem gozar, mas lembrem-se de que na altura não havia web cams, nem hi5, nem telemóvel, nem a aprazível desenvoltura que há hoje em dia. Nós não éramos sluts! Havia um protocolo a seguir e ai de quem não o respeitasse, principalmente numa aldeia em que ninguém pode soltar gás sem ser notícia de primeira página no dia seguinte.
Anyway, a amiga representou o seu papel. Numa das noites antes de voltar a casa dos meus avós, a amiga foi perguntar ao rapazinho, que se encontrava no primeiro andar do café. E eu fiquei cá em baixo, à espera.
Agora imaginem a minha cara quando ela aparece à janela e berra: “Andreia, ele disse que não!”
Buracos para me esconder? Claro que não! Afinal de contas, uma boa humilhação, para ser completa, não compreende qualquer tipo de escapatória dos olhares públicos.
Então o que é que se faz? Bem, normalmente faz-se o caminho de volta para casa com os olhos pregados ao chão. Mas antes que isso pudesse acontecer, sai o tal rapaz disparado do café, nunca cheguei a saber porquê, talvez para me gozar (?), escorrega numa das tais bostas que estavam por todo o lado e espeta-se contra uma fonte que havia mesmo em frente, partindo dois dentes.
Não, não me tentaram queimar na fogueira por bruxaria, o que admito que possa ter passado pela cabeça de alguns, mas as vacas nunca mais foram as mesmas! Ter caminhos interditos faz isso a uma vaca!
O quê, não pensaram que a história era embaraçosa só para mim, pois não?