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Mário Nogueira, o secretário-geral da FENPROF, esteve esta manhã nos estúdios da RTP a discutir o actual impasse entre professores e governo.
Para grande espanto do jornalista de serviço, o homem que dá a cara pelos professores, disse que o objectivo não é a suspensão da avaliação.
Grande espanto porquê? Porque nas últimas semanas não se ouviu outra coisa senão que não havia entendimento se a avaliação não fosse suspensa. Exactamente assim!
Então Mário Nogueira explicou-se: afinal, os professores não querem a suspensão da avaliação, querem a suspensão deste modelo de avaliação. Agora, se bem entendo, se este modelo de avaliação for suspenso, já não vamos a tempo de implementar outro neste ano escolar, não é? Quer dizer, temos as férias de Natal à porta, meus amigos!
Então no que é que a suspensão deste modelo de avaliação resulta? Na suspensão da avaliação? Oh! Mas deve haver aqui mais qualquer coisa! Tem de haver!
Por outro lado, o governo diz que está disponível para negociar mas que não suspende este modelo de avaliação. Diz que o remodela, que lhe faz alterações, mas que não o suspende! Porquê? Porque quer que haja avaliação dos professores já este ano e a suspensão deste modelo não o permitiria. Mas esperem!!! Não é isso que os professores querem também? O governo quer avaliação e, segundo Mário Nogueira, os professores querem avaliação! Então não querem ver que as duas partes querem o mesmo?! Olha que desta não estava à espera!
Mas daí, se calhar o nível de entendimento entre as duas partes ainda é mais profundo do que isto! Se o governo está disposto a remodelar este modelo de avaliação, poderemos sempre argumentar que, com as alterações, este modelo passa a ser outro!
Senão vejam: se eu tiver uma receita de bolonhesa de carne e a fizer sempre da mesma maneira e houver um dia em que lhe adiciono um bocadinho de linguiça para dar um gosto mais picante, a receita original, bolonhesa de carne, desaparece e dá lugar a uma nova receita, bolonhesa de carne com linguiça! Hum?! Uma simples alteração transformou esta coisa, em outra coisa.
Portanto, se calhar as duas partes andam há semanas a discutir e não percebem que querem exactamente o mesmo!
Claro que podemos sempre argumentar a favor da integridade da coisa enquanto unidade mutável. Da manutenção da personalidade da coisa apesar das alterações que sofre.
...
Oh Diabo! Isto é bem mais complexo do que eu pensava!
Afinal a disputa entre governo e professores é uma questão metafísica!
Pois, parece que anda tudo em polvorosa por causa da tal aluna que andou a fazer da professora mopa de chão, por causa de um telemóvel...
É por isso que se alguma vez viesse a ensinar alguma coisa, só numa faculdade. Aí, a maior parte dos professores já está perfeitamente consciente de que a quase totalidade dos alunos se está a marimbar para as aulas. Copiam os apontamentos dos marrões da turma e estudam nas vésperas dos testes. Nas aulas, é telemóveis , sudokus e palavras cruzadas. A diferença é que o aluno universitário raramente é apanhado. E o professor universitário raramente se importa...
Dito isto, tenho assistido com um sorriso retorcido nos lábios ao desencadear de acontecimentos: a agressão, a colocação do vídeo online, a retirada do vídeo, o insurgimento contra a rapariga demente (fazia, acontecia, partia-lhe a boca toda), a vergonha da professora, a dúvida sobre se a aluna seria expulsa, a decisão da professora de processar a aluna, a turma e mais meio mundo...
Só tenho uma coisinha a dizer sobre tudo isto:
EXCREMENTO!
Interpretem-no como quiserem. Pode ser uma alusão ao sistema, aos comportamentos, à nossa reacção chocada a algo que sabemos que acontece todos os dias algures neste país deprimente. Ou ao circo mediático que invariavelmente é montado por ocasião de comportamentos asquerosos como estes. Let´s face it : adoramos uma boa história sórdida! Porque será?
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