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Não há vírus ou bactéria que se propague mais depressa do que o medo.
Na Sexta-feira à noite a corrida à água engarrafada nos supermercados fazia antever um qualquer apocalipse. Foi um médico do hospital de Vila Franca de Xira que nos informou pela primeira vez que podíamos beber água da torneira. Ufa! Então mas podemos beber água e o bicharoco está na água? Pouca gente se deixou convencer. Mas como é que se inala água? O que é que são aerossóis?
No Sábado a água continuava a desaparecer à velocidade da luz e lá vieram os senhores da DGS falar outra vez dos malfadados aerossóis. Banhos sim, mas duches nem pensar. A não ser que se mergulhe a cabeça do chuveiro em água com lixívia. Por causa dos aerossóis, que afinal são mini-gotas de água que andamos por aí a snifar no duche. Nos concelhos e freguesias limítrofes começa tudo a passar-se. Mas se está ali ao lado, porque é que não está aqui, a meia dúzia de metros? Porque é que nós fomos poupados à provação? Será que fomos mesmo?
No Domingo havia gente que não tomava banho desde Sexta-feira de manhã. Ou que só tomava banho de água quase fria. Por causa do vapor. Lá vieram os senhores da DGS esclarecer que o vapor não é um aerossol. Mas à medida que o número de infectados se multiplica e a fonte dos problemas não é encontrada, a apreensão não dá sinal de desaparecer. Fecham-se duches e piscinas municipais, acabam-se as aulas de Educação Física. Consigo imaginar uma data de marrões felizes da vida! Tirando a questão toda dos aerossóis, que afinal podem estar nos duches, nos aparelhos de ar condicionado, nas torres de refrigeração das enormes fábricas, nos sistemas de rega, por aí fora...
Ontem, a apreensão ainda era palpável nas ruas. Os rostos carregados, o olhar que acompanha até ao infinito qualquer ambulância que passe na rua, qualquer carro de reportagem que, por agora, se atravessa à nossa frente amiúde, como se nascesse do chão.
O curioso, nisto tudo, não foi a reacção das pessoas. É normal sentirmos medo perante um inimigo sem rosto, que atinge indiscriminadamente e que não sabemos onde se esconde. Um terrorista unicelular.
O curioso foi a forma como a questão foi apresentada ao público, através dos meios de comunicação social. Ainda hoje há muita gente que não entende muito bem o que é um aerossol. Ainda hoje há gente que acredita que deve fugir de qualquer apresentação de água que não venha de uma garrafa.
Porque a informação não foi veiculada de uma forma condensada e concreta, com indicadores simples sobre o que fazer e o que evitar. Foi saindo, ao longo das horas, ao longo dos dias. E começou por sair com termos que podiam, e deviam, ser outros. Porque o dever daquelas pessoas que povoam agora os nossos noticiários, não era informar os jornalistas. Era informar a população, desde a dona da farmácia até ao velhote de 90 anos que nunca aprendeu a escrever.
Por cá, continuamos à espera que alguém encontre o bicharoco. Na terra da Legionella, a vida continua.
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