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Eu conheço alguns delegados de informação médica.
São pessoas com bom aspecto, bem vestidas, bem falantes e andam sempre com uns presentes giríssimos atrás. Cá em casa tenho um monóculo muito parecido com este,
tenho uma data de canetas todas xpto, e mais umas quantas coisas que agora não recordo.
E como é a vida de um delegado de informação médica? Bem, para começar, e pelo que me contam, sofrem horrores a aturar os médicos. Porque há médicos muito parvos, como em todo o lado, não vá alguém pensar que eles são alguma coisa de especial em relação a todos os outros comuns mortais.
Os delegados chegam a passar horas à espera que um médico lhes preste 5 minutos de atenção. E quando isso acontece, ocorre um género de dança de acasalamento: o delegado apresenta o produto ou produtos que lhe interessa mostrar, o médico mostra-se desinteressado e o delegado mostra-lhe os presentes (que no mundo animal equivale a um pavão mostrar a cauda).
Diz-se por aí que há médicos que trabalham por objectivos, se atingirem a venda de X caixas do produto Y por mês ganham uma viagem ou qualquer outra coisinha boa. Mas isso não posso confirmar e pode muito bem ser apenas um rumor.
Mas vamos pensar: não será estranho que alguns médicos passem sempre o mesmo medicamento? Quando muitas vezes já estão disponíveis alternativas mais eficazes e mais em conta?
Não será estranho que muitos médicos nunca tenham receitado um genérico? E que tranquem sempre a receita para que essa hipótese não possa sequer ser cogitada?
Na semana passada andava tudo doido porque as farmácias estavam a aconselhar às pessoas que levassem o genérico mais barato em alternativa ao medicamento receitado.
Depois de alguém fazer queixinhas, lá veio a senhora Ministra da Saúde dizer que as farmácias não podiam fazer isso e que a comparticipação do estado não seria paga àquelas que o continuassem a fazer.
Sim, porque a Ministra da Saúde tem perfeita consciência do que se passa todos os dias nas farmácias portuguesas. Ela sabe, de certeza, que há pessoas que acabam por não comprar os medicamentos que lhes receitam porque são demasiado caros.
Ou, se calhar, a senhora Ministra da Saúde, como é médica, sabe é perfeitamente o que está por trás de tudo isto e quer continuar a proporcionar a viagenzita aos seus ex-colegas. Ai, não, que isto é um rumor!
A justificação dada foi que tem que ser respeitada a vontade do médico prescritor mas que o governo continua empenhado em fomentar a utilização desses medicamentos.
Pois.
Porque o governo sabe que um genérico é um medicamento igual ao de marca, com os mesmos princípios activos, com a mesma eficácia, extremamente controlado pelas autoridades competentes, mas no qual não pagamos a marca. Na maior parte dos países da Europa, são utilizados numa percentagem esmagadora em relação à portuguesa.
Compro muitas vezes o genérico na farmácia. Quando o médico me tranca a receita pergunto qual o preço do genérico sem comparticipação e o preço do medicamento de marca com comparticipação. Às vezes, mesmo assim o genérico é mais barato. E lá gasto eu menos uns trocos...
Lá por eles serem médicos, não quer dizer que nós tenhamos que ser tolos, não é?
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