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Uma das minhas habituais leituras de casa de banho convenceu-me de uma coisa: em tempos de crise devíamos abster-nos de ler jornais e revistas, de ver televisão e ouvir rádio: é que na conjectura depressiva em que nos encontramos, lidar com meios de informação só pode ter efeitos adversos e potenciar a nossa neurose!
A questão é que eu pensava que das revistas da tanga não poderia resultar grande mal. Quer dizer, pode ser um bocado deprimente saber que há tanta gente que não faz um cu da vida mas desde que aceitemos isso como um desagradável ponto assente, como a existência de doenças venéreas ou o facto de o Castelo Branco ter livre acesso às nossas casas todas as tardes, acho que conseguimos superar o desgosto.
Desta vez o susto veio de uma das últimas páginas de uma daquelas revistas que o Correio da Manhã junta ao jornal ao fim de semana, da segunda ou terceira semana de Maio.
Pois é, a verdade é que fui direitinha à página das audiências, como um pequeno vitelo a caminho do matadouro, inocente, sem ter bem a consciência do que poderia acontecer.
Os primeiros sete lugares da grelha de audiências daquela semana eram ocupados pela TVI. Sim, pela TVI!
Claro que fiquei em choque! Os tais programas que mais pessoas viram nessa semana eram o telejornal da TVI, não sei quantas novelas (não sei como eles conseguem enfiar tanta novela num dia que, à partida, só tem 24 horas. Espera! Será que a TVI arranjou maneira de quebrar o contínuum espacio-temporal?!) e uma coisa que eles chamam casos da vida, ou lá o que é, e que afinal é um nome simpático para dizer "Reportagem com nível de lamechismo extremo em que o voz off fala sempre com um tom de voz condoído"...
O momento mais alto da semana tinha sido registado quando a novela A Outra atingiu um share máximo de audiência, com quase 2 milhões de espectadores. Mais de 50% das pessoas que tinham a televisão ligada naquela altura estavam sintonizadas na TVI...
Opá, eu até sei como é que se medem as audiências, distribuem-se os aparelhinhos que registam os dados a uma fatia representativa da população e está feito.
Mas uma tremenda dúvida me assalta quando analiso as coisas dessa maneira: Onde é que estavam as pessoas com um mínimo de bom gosto? Todos sabemos quem são, aquelas que conseguem distinguir as coisas boas das outras. Onde é que andava essa gente, para não merecer representação? Tinham ido à casa de banho? Só espero que tenham tido melhor sorte com a literatura do que eu...
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