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Era de frustração e alguma consternação o ambiente em Belém, onde estavam concentrados os pilotos do Lisboa-Dakar de 2008, há poucas horas. A notícia caiu como uma bomba entre pilotos, empresas envolvidas e autarquias portuguesas atravessadas pela prova: o Dakar deste ano foi cancelado, por não estarem reunidas condições de segurança.
Pela primeira vez, em trinta anos de competição, foi tomada a decisão de cancelar a prova, com base na revelação de que a Al-Qaeda citava a prova deste ano como possível alvo de atentado.
"Pesava sobre o Dakar um clima de insegurança geral, desde o assassínio dos quatro turistas franceses na Mauritânia. As ameaças da Al-Qaeda do Magreb citavam o Dacar. Era impossível contornar a ameaça, porque não eram visadas etapas específicas", declarou Etienne Lavigne, o director da prova.
A Mauritânia criticou a decisão de cancelar o rali, afirmando não haver “qualquer elemento novo que a justifique”.
Babah Sidi Abdallah, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Mauritânia, assegurou que foram “tomadas todas as medidas para garantir que o rali se realizasse sem qualquer incidente”, acrescentando que tinha sido destacada uma força de três milhares de homens, ao longo de 9.275 quilómetros (desde a Europa a África), como forma de garantir a segurança de todos os envolvidos. Abdallah salienta ainda que o cancelamento prejudica o país, pois a passagem das comitivas traz ânimo económico a localidades muito isoladas.
O nosso governo veio dizer que lamentava, mas colocou ênfase na mestria da organização portuguesa.
Ou seja, muito se disse e vai dizer-se, nos próximos dias sobre o cancelamento. Mas talvez o comentário mais iluminado tenha sido o de Ari Vatanen, quatro vezes campeão do Dakar em carros: "(...)hoje o rali ficou refém dos vagabundos, dos terroristas e dos fanáticos".
E é disto que se trata, não é? O objectivo final do terrorismo é espalhar o terror, impedir as pessoas de viverem as suas vidas por causa do medo, levar multidões a adiar sonhos sob pena de colocarem em risco a própria vida.
Todos os anos, admito, deliro com o Dakar. Assim que a comitiva chega a África, ao berço da humanidade, já não largo a televisão em busca dos especiais diários do Dakar, cheios de imagens que nos tocam pela sua beleza, crueza e natureza.
Este ano vou sentir a falta. Perderam os espectadores, perderam os pilotos, os organizadores, todos aqueles que de alguma forma se encontravam envolvidos na prova. Mas perdeu também a humanidade. Na constante luta contra o terrorismo, hoje eles ganharam. Pior, deram-nos uma coça. Inadmissível!
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